Há dois meses a pequena Amanda, de quatro anos de idade, foi atingida por disparos de um grupo armado na Comunidade do Caroço, próximo ao bairro Praia do Futuro, em Fortaleza. A criança estava com a mãe, que também foi atingida pela arma de fogo. Semanas depois, Amara, uma adolescente de 13 anos, perdeu a vida após invasão armada na casa em que mora, no bairro Planalto Ayrton Senna também na Capital. O ex-namorado da jovem é o principal suspeito.
Apesar dos nomes que abrem esta reportagem serem fictícios, as mortes são reais e aconteceram em 2020. Amanda e Amara estão entre as 44 garotas menores de idades vítimas de Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLIs) entre janeiro e outubro deste ano - 91,3% a mais do que o acumulado em igual período de 2019, quando 23 garotas entre 0 e 17 anos foram vitimadas em território cearense.
Os dados são das planilhas estatísticas de CVLI, publicadas mensalmente pela Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS). A Pasta considera como CVLIs os crimes de homicídio doloso, feminicídio, lesão corporal seguida de morte e roubo seguido de morte.
Ser mulher
São as meninas com idade acima dos 15 anos as mais vulneráveis. Das 44 mortes notificadas em 2020, 28 foram de garotas nesse perfil. É uma incidência 75% maior do que o registrado em 2019 quando 16 meninas perderam a vida. Em mais da metade dos ataques, armas de fogo foram usadas pelos agressores: pelo menos 28 meninas morreram por conta de disparos em 2020. A quantia corresponde a 63% dos casos. Em números absolutos, o valor é 57% maior do que registrado até outubro de 2019. Na época, 16 meninas foram assassinadas a tiros, o que corresponde a 69% das notificações naquele ano.
Por trás da elevação, questões sociais que passam por gênero e pelo contexto de violência urbana. A quantidade de crimes com arma de fogo, defende a socióloga Camila Holanda, evidencia a vulnerabilidade da mulher nessa cena - principalmente quando consideramos que os atacantes são parceiros afetivos das vítimas.
"O ano de 2020 foi um ano marcado pelo conflito entre as organizações criminosas, que terminam atraindo essa juventude. Dentro disso, a gente vive em um momento onde um discurso autoritário contra os corpos femininos está muito legitimado. O feminicídio não é só crime relacionado à violência doméstica. É também uma relação de poder", reforça Camila Holanda, consultora de pesquisa do Comitê de

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