Se o educar contribui na formação intelectual, moral e física, interromper este ciclo gera lacunas sociais, muito além de uma cadeira vazia em sala de aula. Apesar de a evasão escolar ainda ser uma realidade, o Ceará tenta driblar os índices negativos.
O resultado é que em 2020, 176 municípios do interior do Estado cadastrados na plataforma do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alcançaram quase 50% da meta de rematrícula, que é resgatar 20% de todos os alunos que abandonaram a escola ou evadiram.
Até o último dia 20 de janeiro, 6.114 estudantes do ensino infantil e fundamental foram alcançados, o que corresponde a 49,68% da meta estabelecida. Conforme o chefe do Escritório do Unicef no Ceará, Rui Aguiar, "44 municípios já alcançaram ou ultrapassaram a meta; 29 passaram os 50% da meta; 45 estão abaixo de 50% e 58 permanecem estagnados desde 2017", aponta.
Os esforços para trazer de volta crianças e adolescentes com faixa etária de 4 a 17 anos começaram em 2017, quando o Censo Escolar indicava que 61.530 haviam abandonado os estudos.
O Unicef, então, estabeleceu que as secretarias de Educação de cada cidade buscassem, pelo menos, 20% dos alunos ausentes. Dessa forma, o objetivo era que 12.306 do total estivessem novamente no âmbito escolar em 2020.
As cidades interioranas aderiram à plataforma Busca Ativa Escolar do Unicef, que ajuda no combate à exclusão escolar a partir do monitoramento da frequência dos estudantes. Através da ferramenta gratuita, gestores municipais podem fazer a identificação, o controle e o acompanhamento de crianças para depois desenvolver e implementar políticas públicas que garantam a reinclusão do grupo.
Monitoramento
De acordo com Rui Aguiar, o trabalho de busca ativa não se limita apenas à matrícula do aluno em situação de abandono. "Uma vez localizados essas crianças e adolescentes, o município é orientado a fazer quatro visitas à escola ou à casa delas para verificar se continuam frequentando as aulas. Não é só garantir a rematrícula, é muito mais que um processo de volta às aulas, é volta e permanência", reitera.
Enquanto o aluno é observado, os educadores investigam ainda as causas que levaram à desistência dos estudos. A "abordagem comunitária", que envolve um diálogo com a família e o aluno, se propõe a ouvir os dilemas pessoais do estudante. Os encontros permitiram reconhecer mais de 20 fatores. "Pode ser, por exemplo, um processo de violência na escola, falta de transporte para se locomover à unidade ou até fardamento, gravidez na adolescência, desinteresse pela escola, necessidades educativas especiais não fornecidas e até aqueles que cumprem medidas socioeducativas", sinaliza.